Ainda dorme contigo?
Esta é uma das perguntas que mais me fazem, uns de uma forma mais chocados que outros, e para ser franca o grau de espanto pouco ou nada muda a forma como vivemos a cama a três.
O co- sleeping nunca foi algo pensado para nós, enquanto família, ele foi simplesmente acontecendo naturalmente. Um dia ela estava doente, tinha cerca de um ano, e desconfortáveis com o facto de ela estar no quarto ao lado, na nossa cabeça era uma distância enorme para uma criança doente, fomos buscar a rapariga para a nossa cama, e este foi o primeiro de muitos dias, anos, em que ela dormiu connosco. Esta é uma realidade em muitas casas, mas não disso que eu vou falar...é do outro lado...
Os filhos dormem com os pais porque é bom para todos ( partindo do principio que é consensual) eu falo por mim, por nós, o sentir aqueles copinhos quentinhos pequeninos ao nosso lado, o cheirinho das bochechas, a cadencia da respiração, as mãos pequeninas que nos seguram no rosto, os corpinhos que se aninham a nós e se moldam de forma perfeita! Eu tenho sorte, porque tenho filhos que pouco se mexem durante a noite, mas ás vezes acordava com uma cabeça por cima de mim e uns pés nas orelhas do pai, e até isso era motivo de piada!
É só de mim, ou a cama dos pais tem qualquer coisa de muito apetecível?! Eu lembro-me de ser miúda e adorar dormir com a minha mãe, apesar dela ter um método infalível para ninguém lhe roubar as mantas e que era de tal forma eficaz que muitas vezes ela era a única que estava tapada! Lembro-me de "discutir" com as minhas irmãs quem ia dormir com ela, e no fim a decisão era sempre dela, e tinha que ser justa...somos 4 filhas...a cama não chegava para todas, mas era o melhor lugar daquela casa!
A Rafaela dormiu connosco desde um ano, e manteve-se na nossa cama até perto dos 5 anos, e quando lhe dizíamos para ir dormir, apesar de ter o seu quarto, era a nossa cama que dirigia os passinhos dos seus pés pequeninos, durante muitos anos ela dizia com voz pequenina " anda para a nossa cama", nos hotéis a cama extra nunca fez falta, até um dia, em que me disse " mãe, achas que consigo dormir sozinha?" percebi que ela estava a tomar consciência de forma natural, que precisava do espaço dela, da cama dela, disse-lhe que sim, que eu podia ajudar! Se foi um processo rápido? Não foi rápido, mas também não foi doloroso, foi ao ritmo que ela precisava!
Ela pedia que lhe lesse uma historia e ficava de mão dada comigo até adormecer...e eu ficava ali sentada à espera que o sono profundo tomasse conta dos seus sonhos...mas...a meio da noite, lá vinha ela com o seu cão debaixo do braço enfiar-se no nosso cantinho, eu sempre a recebi, abria as mantas e deixava-a entrar e aninhar-se. De manhã o espanto no seu rosto era sempre o mesmo acompanhado da frase " oh mãe! Eu não consegui dormir a noite toda na minha cama!" , cheguei a fazer quadros, que depressa perdiam o interesse, porque era difícil manter-se na cama dela a noite toda, até que percebi que o que era necessário! Uma mega dose de confiança!! E era mesmo isso! Num acto de criatividade inventei uma nova fada, semelhante à já conhecida fada dos dentes, a nossa querida Fada do Soninho...
A Fada do Soninho era trapalhona e bem disposta, e dava confiança aos meninos que queriam dormir na cama deles, mas só aos que queriam mesmo com o coração. Ela era ( é) tão inocente, que acreditou desde o primeiro minuto. E eu todas as horas de almoço, escrevia uma carta que a motivava a conseguir, onde haviam histórias da fada, onde ela se ia envolvendo, havia noites em que ela deixava pós mágicos na almofada, outras noites ela tinha que dizer três vezes seguidas " eu consigo, eu consigo, eu consigo" e ela repetia e eu derretia por dentro...até que um dia ela conseguiu...!! Dormiu toda a noite na sua cama, acordou feliz, aos saltos que tinha conseguido, que a Fada do Soninho era maravilhosa, e que ia contar à educadora, como tinha sido capaz com a ajuda dela...e assim de forma simples passou a dormir sempre na sua cama.
Nós, melhor que ninguém conhecemos os nossos filhos, havia quem me dizia chocado que ela já era grande para dormir na nossa cama, que bastava uma semana de choro e a mudança estava feita, mas não era isso que eu queria para a minha filha, se ela lá estava foi porque nós permitimos, não seria justo despeja-la sem motivo, para quê fazê-la senti-se rejeitada? Não foi mais fácil assim? Sem choro ou drama, de forma tranquila e quase mágica?
A Fada do Soninho ajudou já algumas amigas minhas, e é incrível como funciona de forma tão positiva!!
Acho que vou ter que recorrer a ela mais vezes, porque o nosso Gabriel dorme no meio do pai e da mãe desde que nasceu, porque um dia alguém me disse: " olha agora faz com esse o mesmo que fizeste com a mais velha!" e como sou bem mandada fiz :)
Ele ainda dorme contigo? E ainda mama? ( este é outro tema)
sim...e sim...
Nunca se viu um adolescente a dormir com os pais ou a mamar na mãe até ter 18 anos...por isso não me parece que seja grave...
E quanto à confiança enquanto crianças...bem...quem conhece a minha filha sabe que ela é tudo menos timida ...ás vezes até podia ser um pouco mais! Não precisava ser tão desbocada!!
Tenham bons sonhos, a dois ou a três ou até a quatro, desde que durmam felizes e quentinhos!